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 Rampa Médica - Artigos

  Malária - Quimioprofilaxia e Medidas de Prevenção.
Colaboração: Dr. Wanir José Barroso *

Quimioprofilaxia em malária só deve ser utilizada apenas em situações específicas e prescrita por médicos especializados ou familiarizados com o aconselhamento a viajantes.

A quimioprofilaxia em malária nada mais é do que o uso de medicamentos antimaláricos para uma malária que ainda não contraímos e que não sabemos se vamos contraí-la. É como se tentássemos prevenir a doença utilizando medicamentos que são prescritos em seu tratamento e cura, achando que ao fazer isso não teríamos a doença se picados por mosquitos infectados. A grande questão com relação a quimioprofilaxia em malária é que os medicamentos antimaláricos são específicos para curar malária apenas em doses terapêuticas e nem todos antimaláricos servem como quimioprofiláticos. Cada um desses medicamentos tem suas particularidades, uns são mais tóxicos, outros são de doses diárias, outros podem desenvolver efeitos colaterais graves e outros podem até não oferecer efeito protetor nenhum, sendo que, para todos os antimaláricos utilizados em quimioprofilaxia, estes isoladamente e com o uso de doses subterapêuticas preconizadas para a quimioprofilaxia não conseguem curar pacientes que contraíram a doença, salvo raríssimas exceções.

Em quimioprofilaxia antimalárica deve-se considerar sempre as condições clínicas do viajante e o tempo de permanência em áreas sabidamente de transmissão da doença. A quimioprofilaxia só deve ser utilizada para quem vai para uma área de transmissão de P. falciparum onde não há nenhum socorro médico por perto, tolera bem os efeitos colaterais do medicamento e vai ficar por lá por um período no mínimo superior a 12 dias. Infelizmente ainda existem poucos estudos sobre os efeitos adversos causados pelo uso contínuo desses medicamentos.

Medicamentos
Os medicamentos antimaláricos usados como quimioprofiláticos apresentam várias contra-indicações. Atenção especial deve ser dada a mulheres grávidas, recém natos, idosos, portadores de doenças metabólicas e infecciosas e também para pessoas que tem que estar sob vigília permanente, como os pilotos de avião. Entre os efeitos colaterais indesejáveis relatados neste grupo de medicamentos que apresentam diferentes graus de toxicidade estão: náuseas, diarréia, boca amarga, visão turva, zumbido, tremores, sonolência, cardiotoxicidade, e entre as intolerâncias mais sérias as convulsões.

A quimioprofilaxia em malária não evita a infecção malárica, isto é, não evita a entrada e a multiplicação do protozoário no organismo se picado por mosquitos infectados, e também não tem finalidades de cura, até porque em quimioprofilaxia as doses utilizadas são menores que as doses terapêuticas utilizadas no tratamento convencional.

Em malária o uso de medicamentos quimioprofiláticos pode retardar o início dos sintomas, alargando o período de incubação e às vezes não surtir efeito protetor nenhum, caso o Plasmodium circulante seja resistente ao medicamento que esteja sendo utilizado. Várias cepas de P. falciparum já se mostram resistentes frente a vários medicamentos antimaláricos em diversas regiões endêmicas. A cloroquina, por exemplo, não mais deve ser utilizada como quimiprofilático considerando que o P. falciparum já se mostra resistente a ela em cerca de pelo menos 90% das áreas endêmicas do planeta.

Diagnóstico
O diagnóstico e o tratamento na fase inicial da doença têm objetivos semelhantes aos da quimioprofilaxia que é conseguir evitar o desenvolvimento de suas formas graves, cuja principal causa é o retardo de diagnóstico.

Aquele que conhece os sintomas iniciais da doença e suspeita estar com malária por ter freqüentado áreas de transmissão e vai em busca de socorro médico para fazer o diagnóstico por apresentar sintomas, tem sempre um melhor prognóstico do que aquele que faz uso de quimioprofiláticos.

Um outro fator negativo e importante que sempre deve ser considerado é que esses esquemas utilizados em quimioprofilaxia causam uma falsa sensação de segurança, fazendo inclusive com que o viajante se exponha mais à picada de mosquitos transmissores, tornando-se mais vulnerável a contrair a doença, além de ter que aderir ao desconforto do uso de doses diárias ou semanais dependendo do medicamento utilizado. Quimiprofilaxia não deve ter suas finalidades protetoras confundidas com a de uma vacina. Em que pese estar fazendo uso de quimioprofilaxia, pode-se desenvolver a doença e suas formas graves se picado por mosquitos infectados. Contra a malária infelizmente, ainda não existe uma vacina específica e eficaz disponível.

Em quimioprofilaxia antimalárica os níveis de proteção oferecidos são dependentes de vários fatores, como o uso regular de doses do medicamento, o fato do Plasmodium não estar resistente ao medicamento prescrito e ao paciente metabolizar, tolerar e eliminar bem o medicamento e não desenvolver efeitos colaterais indesejáveis.

A quimioprofilaxia antimalárica, se indicada, deve ser feita estritamente dentro das orientações médicas recebidas, isto é, nunca se deve substituir o medicamento, o tempo de duração ou a posologia fornecida pelo médico que a prescreveu.

Prevenção
Em resumo, a melhor prevenção contra a malária continua sendo:
• Conhecer os principais sintomas iniciais da doença (febre, dores pelo corpo, vômitos, diarréia, dor abdominal, falta de apetite, tonteira, sensação de cansaço entre outros);
• Saber onde buscar por socorro médico ou informações para obter o diagnóstico e o tratamento tanto na área endêmica como fora dela, caso venha a apresentar os sintomas;
• Saber se está ou não em área de transmissão de malária, ou se existem pessoas contraindo malária na região onde se encontra;
• Evitar a picada de mosquitos em áreas de transmissão com o uso de repelentes, inseticidas, telas em portas e janelas, mosquiteiros ou não freqüentar áreas alagadas onde existam criadouros naturais;
• E não se automedicar;

Localizar e encaminhar em áreas de transmissão de malária pacientes febris para diagnóstico e tratamento é a principal medida para conter surtos ou epidemias, evitando que a doença se alastre ou tome proporções epidêmicas. Enquanto houver alguém doente e sem tratamento nessas regiões haverá a possibilidade de outras pessoas também a contraírem. Os grupos mais vulneráveis a desenvolverem as formas graves da doença são: crianças, idosos, pessoas que contraem a doença pela primeira vez, mulheres grávidas e portadores de outras doenças infecciosas.

A malária em qualquer região do planeta continua sendo uma doença parasitária das mais graves, de evolução muito rápida, mas curável desde que diagnosticada e tratada com a rapidez que a doença exige. A doença pode comprometer seriamente o funcionamento de diversos órgãos como o fígado, os rins, o baço, os pulmões e o cérebro além de evoluir para suas formas graves com o coma malárico e até mesmo o óbito em poucos dias, caso haja retardo de diagnóstico e de tratamento.

Malária deve ser sempre considerada como uma emergência médica!


*Dr. Wanir José Barroso
é Farmacêutico-bioquímico, sanitarista, especialista em epidemiologia e controle de endemias pela Fiocruz/RJ.

*Proibida a reprodução deste artigo sem autorização do autor



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