O Ovo ou a Galinha?
Por Jefferson Maia
Muitos são os aspectos que nos levam a ponderar no que podemos fazer quando portamos algum tipo de deficiência, normalmente tendemos a posicionamentos e reflexões mediante nossas angústias. Certamente, esta é a oportunidade que temos de rever conceitos.
Mesmo sendo cadeirante já a bastante tempo; às vezes, ainda me deixo seduzir pela acomodação e falta de motividade nos meus objetivos a serem realizados. Por exemplo: se planejo ir a algum lugar (cinema, teatro, etc...), e me deparo com uma possível dificuldade no acesso, chego até, por vezes, a desistir de meu intuito. Quando me dou conta, e "caio na real", percebo o quanto fui tolo, abrindo mão de mais um desejo, com acessos nem tão intransponíveis assim. Vejo então, o quanto a passividade e a inércia podem nos ser muito danosas, a ponto de irem corroendo e apagando, pouco a pouco, nosso "fogo de vida". Cada experiência é singular. Podemos imaginar
como nos privamos de novas possibilidades de ser, estar, e sentir a vida, deixando nossos anseios de lado.
Se começamos a falar de vida independente em palestras, reuniões etc... entre outras coisas, logo perguntam. - Porque quase não se vê ppds nas ruas, já que são tantos? Respondo que isto me faz lembrar aquela historinha de criança: - Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Caimos em
um ciclo vicioso. "Não há ppds nas ruas por não existir acesso decente. E em contrapartida, alega-se que não tem acesso por não haver ppds nas ruas". Esta "tal de acessibilidade" deve ocorrer em condições de conforto e segurança para todos, ninguém deve ficar nem se sentir alijado de um meio comum por causa de sua diferença.
Pensar no nosso direito de ir e vir, é pensar também em acessibilidade, e nos significados que nossa eventual diferença dão a locomoção. Seja esta de cadeira de rodas, muletas, bengalas, cão guia... ou qualquer aparato que usemos em nosso deslocamento.
Precisamos exercitar, não só o direito, mas o dever de colocar a "cara no mundo", para suprir nossas necessidades básicas como qualquer indivíduo. O fato é que não necessitamos travar nenhuma luta diária, e procurar o mais complicado para provar alguma coisa. Não precisamos provar
nada a ninguém. Até mesmo, porquê, por mais que se adapte o meio ambiente, sempre haverão algumas barreiras em nosso caminho. Nosso habitat não é plano; nem a vida é so facilidades. Seria utopia pensar assim.
Muito interessante é descobrir alternativas de quando e como "dar um jeito" se não existir o acesso esperado. Só mostrando as falhas ao transpor as mesmas, tornamos visível o que precisa ser adaptado. Por isso temos que fazer valer nossa presença, isto sim é necessário.
05/ 05/ 00
Jefferson Maia