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Horizontes



Por Jefferson Maia

Todos nós sabemos, que olhando ao longe num cenário natural, temos no fim do nosso alcance ocular um tipo de moldura, algo que conhecemos como "horizonte". E foi pensando nessa denominação subjetiva do nosso limite visual que comecei a pensar em outro tipo de subjetividade, aplicada ao que vejo, penso e decido para mim, numa sensação do tempo/espaço, de um "horizonte particular". Lembrei-me disso quando fui visitar minha avó em sua casa outro dia, e fiquei um tempo voltando à minha infância; lembrando de coisas que vivenciei nos meus primeiros sete anos de vida naquele lugar. Um tempo em que tudo era grande, menos eu! Aquela fase em que olhamos quase tudo, e quase todos de baixo, e passamos boa parte desse período vislumbrando o futuro, com aquele conhecido clichê infantil: - Quando eu crescer... !!! Tinha na memória como eu brincava, em um quintal que me parecia tão amplo. E hoje, depois de adulto acho curiosa esta comparação, numa percepção de amplitude diferenciada; naquele terreno em que ontem me divertia, corria e achava enorme; ser um espaço com pouco mais de uma garagem.

Mas, sem querer deixar de lado esta nostalgia gostosa que todos temos, posso mudar um pouco o rumo do assunto no que tange à cronologia nossa de cada dia; e sem fugir do tema, falar de uma sensação bem parecida, notada após a lesão medular e meus estágios de "volta à vida", convivendo com a limitação física. - Penso que deve ser assim também em outros casos pessoais de transformação, seja por acidente ou patologia. Mas voltando ao assunto...

Passada a fase hospitalar, fiquei alguns meses internado em um centro de reabilitação, onde existe toda uma estrutura para acomodar as PPDs, enfermarias, ginásio, pátio, etc. Tudo adaptado, achava o lugar uma "imensidão", na época pouco me locomovia, observava o vai e vem dos outros nas horas que passava na varanda, onde sempre nos reuníamos. Após a alta, fiquei muito tempo sem voltar ao local. Fui vivendo outras situações, esporte, torneios, viagens, trabalho, volta aos estudos, relacionamentos, etc. As coisas foram simplesmente acontecendo, e sem perceber, para minha felicidade eu estava ampliando o meu "horizonte de vida".

Um dia qualquer, voltei lá, onde passara tanto tempo como paciente, buscando algo já presente em mim e eu não sabia. Um período importante e necessário após o choque, início, espaço, motilidade, descoberta. Mas neste dia, me chamou à atenção, o tamanho do lugar, não era realmente pequeno, mas nem de perto era aquela grandiosidade que outrora eu pensava ser, percorri todo o centro em poucas horas para ver o que precisava. Percebi então que, tal qual à fase infantil, diante da lesão meu horizonte tinha sido novamente reduzido, e o mundo além do portão devia ser incomensurável e esquecido. Sequer imaginava como estava errado. Nosso raio de ação (vida), pode ser muito maior do que podemos imaginar, as dificuldades podem nos acompanhar sim, mas as facilidades também. Se percorrermos novos caminhos e chegadas, o que passou vai se tornando menor e o limite fica por conta de um momento transitório. Se deixarmos nosso desejo de buscar o novo nos motivar, é só olhar bem para ver que já está se formando um outro "horizonte".

Jefferson M Figueira


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