Publicado em : 18/06/05
O "Homem Bomba" Explodiu no Fundo do Mar de Lama.
"O dinheiro das campanhas vem dos empresários que mantêm negócios com as estatais; todos aqui sabemos disto, mas temos a hipocrisia de não confessar isto perante a nação." Esta frase pronunciada na Comissão de ética, naquela terça-feira, pelo Deputado Roberto Jefferson, expressa a torpe realidade que todos conhecem, e calaram.
O povo não é, de todo, inocente. A maior parte da população sabe que há, e sempre houve, sujeira em todas instâncias governamentais, só não aprendeu a acompanhar o político no qual votou, para dizimá-lo na eleição seguinte.
Confesso, com toda a isenção: acho difícil acreditar que Roberto Jefferson fosse, levianamente, fazer denúncias tão graves, considerando que é advogado experiente, deputado detentor de poder político e de influência, inclusive pelos seus vinte e três anos de mandatos consecutivos, por isso, deduz-se, conhecedor dos salões nobres, dos bastidores e porões da Câmara, de seus tapetes e o que tem por baixo deles.
Já vimos vários escândalos envolvendo todos os tipos de autoridades, juizes, ministros, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, vereadores e governo estadual, até um presidente da República, escorraçado pelo povo. É escândalo nos Correios, no Ibama, na Sudene, no INSS... é só aparecer um descontente com a divisão do roubo, ou uma investigação séria, para aparecer sujeira, propina e corrupção, algumas feitas com o dinheiro do próprio povo, outras com dinheiro de empresários corruptores.
Já vimos desvio de verba para remédios, para merenda escolar, para agentes de saúde, combate à dengue, fome zero etc. etc. etc. O que eles buscam? Superfaturamento, cartas marcadas em licitações, nomeação de apadrinhados, aprovação de leis em benefício próprio e de políticos sem ética ou caráter. Será diferente, agora, no escândalo do mensalão? Esta pergunta só a CPI deverá responder.
A corrupção e a impunidade são cânceres que a sociedade tem que extirpar, porque se alastram corroendo seus direitos e sua dignidade.
Diante da vergonha que se viu terça-feira, com mais uma desmoralização da política (já desmoralizada através de políticos desprovidos de ética), fica claro que há uma iminente necessidade de moralização e terminante instituição da ética na política.
A maioria dos deputados, inclusive o próprio presidente do PFL, que apresentou a denúncia contra Roberto Jefferson à Comissão de Ética, mostraram despreparo, ou pouco preparo em suas perguntas ao denunciado, algumas mais inconsistentes do que, assim, alguns consideravam as denúncias de Jefferson. Por outro lado, todos os que acompanharam o seu depoimento concordam, pelo menos em uma coisa: é preciso averiguar profundamente as denúncias do "mensalão", pago, seja com dinheiro das estatais, que têm interesse em contratos milionários para manter os cabides de empregos e balcões de negociatas políticas, seja com dinheiro de empresários em prol de seus interesses.
De qualquer forma, Roberto Jefferson, até então - o réu - demonstrou muita segurança em seu comportamento e em suas palavras contundentes. E foi sempre firme, mesmo quando questionado sobre a contradição de que, antes, negava ter recebido apoio financeiro do PT, e agora admite ter recebido 4 milhões, cuja confissão, embora configure crime eleitoral, o habilita como testemunha de uma das suas denúncias.
Enquanto José Jenoíno, em entrevista coletiva, negava ter doado dinheiro ao PTB, a ex-secretária de Marcos Valério, o tal "carequinha bem-falante", Fernanda Karina declarava, à revista
IstoÉ Dinheiro -, que via a saída de dinheiro e também viu a mala com um milhão de reais ser levada da agência onde trabalhava. Depois ficou apavorada e pediu proteção de vida. Menos de vinte quatro horas depois (15/06), em depoimento à Polícia Federal, negou a maior parte do que foi publicado na IstoÉ Dinheiro. Depois, apresentou-se com um novo advogado, reafirmou tudo, e acrescentou novas informações.
Jenoíno disse que o apoio do PT ao PTB resumiu-se a doação de algumas camisa e material de campanha, e que ele nem sabe precisar o valor. Dando a impressão de que o PTB, com todo histórico, tamanho e potência que tem, aceitou este "apoio" que mais parece prêmio de consolação ou esmola, comparado aos valores envolvidos em campanhas.
Na Comissão de Ética, Jefferson acusava frontalmente alguns deputados presentes e reiterava suas acusações aos ausentes, dando nomes aos os bois. Concentrou o fogo em "Zé" Dirceu, Jenoíno e no tesoureiro do PT. Mas sempre defendendo e isentando o presidente Lula, a quem, terminantemente, considera traído pela cúpula do PT.
Para um povo, por motivos óbvios, descrédulo na classe política, que pouco faz para mudar sua imagem, resta ver os próximos capítulos de uma novela que já deveria ter acabado: "A Saga de um País que não Consegue Vencer a Corrupção".
Gabriel Martins
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