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Opinião

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Publicado em 01/09/2004

A Desobrigação de Votar: Mais um Paradoxo Criado pelo Governo.

      Nas últimas eleições o governo extrapolou. Conseguiu prejudicar as pessoas com deficiência, os candidatos com propostas voltadas para as pessoas com deficiência, e a própria imagem ao assumir a sua inexplicável deficiência. Tudo isto numa tacada só.

      Enquanto o governo desobrigava de votarem, nas últimas eleições, as pessoas com deficiência, alegando que nem todas as salas estavam preparadas para recebê-las, cuja preparação tem que ser feita pelo próprio governo, ao mesmo tempo, através de ampla campanha publicitária veiculada nos meios de comunicação, este mesmo governo conclamava toda a sociedade para que comparecesse às urnas e exercesse sua cidadania, escolhendo pelo voto democrático o seu representante. Por outro lado, este comparecimento democrático já é discutível, pois aqueles que não comparecem às urnas, sem justificativa plausível, são passiveis de punições com as sanções previstas na legislação. Mas, aqui, a questão é o direito e as condições para que as pessoas com deficiência também exerçam esta cidadania.

      Claro que, com toda a repercussão negativa causada pelo fato, o governo retrocedeu, afirmando que as pessoas com deficiência teriam, sim, que votar. Mas, esta informação não foi devidamente divulgada nos meios de comunicação. Isto acabou causando uma confusão entre estes eleitores, pois nem todos tiveram acesso à esta última forma. Portanto, os prejuízos causados foram irreversíveis.

      Voltando à escolha do representante, imagina-se que este deverá ser o que mais transmitiu credibilidade, preocupação em atender à determinadas classes ou grupos sociais e/ou à sociedade em geral, ou, ainda, em dar continuidade a projetos iniciados em mandato anterior, através da reeleição. Assim, as pessoas com deficiência, como qualquer cidadão, grupo ou classe, têm os seus candidatos, cujas propostas visam atender às suas necessidades. Sem a obrigatoriedade estas pessoas são prejudicadas, pois, desencorajadas pelas dificuldades em fazê-lo, deixam de ir votar nos seus candidatos.

      Pelo lado dos candidatos, devemos considerar que estes desenvolvem suas campanhas, através de projetos e propostas, voltadas para um eleitorado, ou seja: um público alvo. Não precisa ser um cientista político, basta um simples raciocínio lógico para deduzir que, com o não comparecimento do seu eleitorado às urnas, os candidatos com propostas que atendem às pessoas com deficiência estarão seriamente prejudicados, inclusive financeiramente, devido aos investimentos feitos na campanha.

      Ao desobrigar as pessoas com deficiência ao ato de votar, pelo fato de nem todas as salas estarem adequadas para recebê-las, o governo assumiu a própria deficiência, e prejudicou a própria imagem. pois sabemos das dificuldades que as pessoas com deficiência, também para votar, têm de enfrentar desde sempre, no entanto o governo tomou esta atitude, como se fosse um fato novo. Isto é uma incoerência para um país que tenta ser exemplo ou modelo avançado de metodologia e tecnologia em eleições, mas esquece, neste mesmo exemplo, a inclusão social, o direito à cidadania e o dever cívico das pessoas com deficiência.

      A coisa ficaria assim: o governo não nos obrigava a ir votar, para que nós não o obrigássemos a estar preparado para nos receber.

      Caba a nós, como resposta, comparecermos maciçamente às urnas em todas as eleições. Se você é uma pessoa com deficiência, compareça e exija as condições para exercer a sua cidadania. Se você tem algum parente ou amigo com deficiência incentive-o à comparecer. Segundo dados do IBGE, somos 24.5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Se quisermos reivindicar nossos direitos temos que participar e nos mostrar.

Gabriel Martins


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